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Mostrando postagens de 2013

Estrago

Veja o estrago que você provoca em mim. Minha cabeça revira, meus pensamentos colidem, minha atenção se perde. Você me causa anseios, me deixa com vontades e não se compadece com a poluição que deixas na minha alma. Já faz tempo que você se foi dos meus dias, mas ainda mora no meu peito, apertando meu coração. Ainda te preciso, nem que seja para varrer minha saudade para baixo do tapete ou para acumular lembranças no cantinho da porta. Não importa qual seja a distância que separa você de mim, sempre te deixarei voltar, sempre te deixarei entrar. Só não repara na bagunça, mas eu precisei dormir maquiada para esconder a dor. Não repara no meu cheiro, é só o meu inválido amor que aos poucos entra em estado de decomposição.
Para Ang. De um mistério de terras distantes Das conversas madrugadas adentro Dos pensamentos meus, infelizes a te imaginar Do meu corpo sedento a te desejar De um querer que jamais será meu Das palavras perdidas, a buscar os olhos teus Da tua voz a embalar meu nome Do abandono em que me deixas, cada vez que somes Da minha incansável espera pela tua chegada De cada sonho que sonho acordada Meu olhar desatento e perdido Minha voz baixa e falha a te fazer um pedido Já não peço que venhas ou que sejas meu Desacredito nas fantasias a me machucar Do meu pranto abafado em meio aos lençóis Por saber que tu e eu nunca seremos nós.

Cuida dela

Não era carência; crianças não sabem o que isso significa. Adultos deveriam não saber também. Mas ela queria carinho, não desses de deitar no colo e receber cafuné. Ok, desses também, talvez. Mas ela queria seus sorrisos e olhares atenciosos em direção a ela. Ela tem o sorriso incrível, não tem? Ela quer atenção e um pouquinho de conversa. Não dessas conversas chatas, sérias e cansativas sobre exigências, deveres e obrigações. Talvez ela só queira que você saiba qual a cor preferida dela. Você sabe qual é? Sabe qual o ursinho que ela escolhe para dormir? Não, não é aquela boneca de pano, porque ela dorme sozinha. Que saudade que eu tenho do cheiro do cabelo dela e de suas mãos pequenas e macias descansando sobre meu coração frágil.  Mas experimente dormir de conchinha com ela, enquanto acaricia seus cabelos e suas costas; ela gosta. Me diga: o que você sabe a respeito dela? Ela só precisa de um passeio de carro pelo bairro, de uma caminhada até o parquinho ou que você a ensine pular a

Carta na garrafa

Andei percebendo que já não penso em você com tanta frequência. Não penso mais com tanta frequência, embora pense com muita intensidade. Você ainda é a causa da minha dispersão. É você meu último pensamento antes de dormir, mesmo que ultimamente eu quase não tenha imaginado mais nosso futuro - se é que temos um (juntos). É um paradoxo de querer não te querer tanto, enquanto passo a te querer mais e mais. Você se lembra de quando houve um tempo em que nós costumávamos sonhar o mesmo sonho? Eu, você, talvez crianças correndo pela casa... E era tudo tão natural: a minha necessidade de você, minha vontade de querer te ter por perto, de querer te ter pra mim. Nossos planos pareciam tão reais, que eu tinha a sensação de que em breve, muito em breve, eu estaria contigo - no fim de semana, na semana seguinte, no fim do mês ou no mês seguinte. Veja bem... Já se passou tanto tempo! Eu tinha tanta coisa bonita para te oferecer, que me recuso a aceitar que todas essas coisas bonitas estejam escap

Do lado de dentro

Perdia-se entre as duas que ela costumava ser. Variava de acordo com o tempo, as companhias e os ocorridos - ou os ocorridos dos dias, as companhias e o tempo é que variavam para adaptar-se a ela? Os amigos já nem estranhavam mais. Mas os familiares sim. Em algumas épocas, ela florescia como a primavera e coloria a tudo e todos com sorrisos espontâneos, felicidade despreocupada e os ombros dela relaxavam. Ela dançava e fotografava, cantava, contava e ouvia histórias. Precisava de muitos por perto; quanto mais, melhor. Odiava sentir-se sozinha e nunca estava. Esquecia-se dos compromissos tediosos, dos seus romances mal resolvidos, lia e escrevia histórias com finais felizes. Acreditava na sua vocação para a escrita e dedicava-se àquilo como tantos apaixonados. Acreditava em si e no que produzia. Fazia o que julgava certo, e o certo lhe agradava. Os cabelos, os olhos e o sorriso brilhavam em conjunto. Empenhava-se nos próprios projetos, pisava firme e confiante no caminho que ela ia tra

Diagnóstico

Acordei com o peito apertado. A sensação não era estranha. Coração batendo forte e acelerado, pensamentos perdidos, falta de apetite e sono inquieto. Alguns falaram que ouvir música triste era terapêutico. Coloquei música. Várias delas. Fiz uma playlist melancólica. A sensação piorou: a dor escorreu pelos olhos. O peito apertado sentia um vazio. E meus braços sentiam também, e o outro lado da cama esperava por alguém. Reli mensagens, refiz na memória cenas de encontros, reencontros e desencontros. Cada lembrança fazia a dor do peito aumentar. Eu queria que o remédio para curar aquilo fosse voltar no tempo e fazer tudo de novo, só que diferente. Pensar em arrependimento não melhorava em nada. Levantei e olhei as roupas espalhadas em cima da cama. Faltava-me vontade para arrumá-las. Faltava-me vontade para muitas outras coisas. O aperto no peito continuava a me machucar, então achei melhor disfarçar com um “bom dia” e tomei uns goles de café. Não almocei. Nem ontem, nem hoje e amanhã n

Dois

Estavam abraçados na cama, quando ele disse: - Fala pra mim aquilo que eu gosto de ouvir? Ela virou-se para ele, o olhou por alguns segundos até entender o que ele estava pedindo. Então respondeu: - Por que eu falaria de novo algo que você já sabe? - Eu sei? - Não sabe? - Sei de nada. - Tudo bem. Então, eu digo. E aproximou o rosto dela do rosto dele, enquanto suas mãos acariciavam-lhe a barba recém-aparada, olhou-o nos olhos e disse baixinho: - Eu amo você. E lhe deu um beijo suave e demorado, antes de tornar a dizer: - Eu amo você. Muito. E quero ficar com você... Quero ser sua. - Mas você é minha. (silêncio) - Fala de novo? E ele sussurrou: - Você é minha... Só minha... Ela sorriu e o beijou por outras infinitas vezes.

Anos depois.

Esperava-lhe com um copo de café expresso nas mãos. Organizava os cômodos da casa, certificando-se que todos os ambientes estavam perfumados e que nem uma flor tinha murchado com o excesso da ansiedade dela. Aguardava por esse momento havia uma eternidade de dias. Dias nem sempre tão claros. Noites quase sempre em claro, mas sempre escuras demais. Dias, noites. Sentou-se na poltrona reservada a ele. Observou a fumaça que saía do café, em cima da mesa de centro. No centro, um vaso com flores artificiais. A fumaça subia, subia, até desaparecer gradualmente. Mal podia ver até onde ia o fim dela. Sentia-se assim em relação a ele. Não ela, mas o que sentia por ele. Depois de tanto tempo, aquilo que ela sentia com tanta intensidade, agora mais parecia uma fumacinha, uma faísca que a gente sopra, sopra e abana para tentar reacender o fogo. Mínimo que seja. Mas era forte, assim como o café. O café quente que logo ficaria frio. Ele nunca aparecera para dar um oi. Ela, vez em quando, deixava es

Aquilo que ela queria ser.

Houve um tempo em que cigarro, livros e café eram sinônimo de intelectualidade. E ela queria ser clichê. Queria fumar e beber, ser culta, escritora. Queria tomar álcool, mas nem água ela tomava direito. Queria ser culta, mas só lia romances vazios e desinteressantes, desses que qualquer adolescente costuma ler só para sonhar. E ela não era mais adolescente. Já tinha passado dos 25 e ainda sonhava. Sonhava em ser escritora, mas mal redigiu cartas; poemas, não sabia rimar. Queria ser independente, mas não arrumava a prória bagunça - da cama, da rotina, das ideias. Ela queria viajar pelo mundo, mas o máximo que conseguia era viajar na própria imaginação. Viajava até demais, a ponto de confundir fantasia com realidade. Quis ser médica ou enfermeira, porque era fascinada pelos cuidados da saúde e do corpo humano. Sequer cuidava da própria saúde, mal residia no próprio corpo; duvidava se tinha uma mente sã. Falava de amor mais que qualquer romancista, porque queria amar, dizia ela. E amava,
É que a gente se tornou um só faz tempo. Você não viu? Ninguém percebeu. Mas que amor é esse nosso, que ninguém ouve, ninguém vê? Alguém viu. Vi você. Mas a gente se tornou segredo também. Tudo bem. É que se contar, estraga.

Refeição

Pergunto-me como sabemos decodificar sentimentos. Eu sei, é chato ter que me ouvir falar sempre a mesma coisa, todas as vezes que nos encontramos. Mas dessa vez é diferente: estamos sozinhos na minha casa, pela primeira vez - sozinhos e na minha casa -, e eu tô sentada aqui, dividindo minha atenção entre saber interpretar sentimentos, saber quando aquele feijão no fogo vai estar pronto para ser servido, e como servi-los a você - o feijão e minha reflexão sobre sentimentos. Você sabe, eu nunca fui muito boa com feijões, na verdade, nunca fui boa na cozinha, mas a gente tenta. E também nunca fui boa em falar sobre sentimentos. Os feijões, por exemplo, eu nunca soube qual é o momento exato de retirá-los do fogo. Nunca soube a quantidade certa de tempero nem quais são os temperos certos, para que não fique exageradamente salgado ou terrivelmente insosso. Ah sim. O que tem a ver sentimento com os feijões? É que eu também nunca sei o momento certo para falar sobre o que eu sinto - e muitas

Fuga

Resolvi fugir hoje. Não fui tão longe, confesso. Sequer saí das proximidades do apartamento. "Apartamento", penso. E sorrio. Eu só preciso de um quintal, com árvores e grama aparada. Havia uma cadeira branca e desocupada na borda da piscina. Já era noite. Não fossem as três almas mergulhando e provocando um barulho pouco além do que eu já não precisava ouvir, seria o cenário tranquilizador perfeito. Saí com um vestido florido, que por pouco - muito pouco - não cobria por inteiro os meus pés descalços. Cenário perfeito seria no Largo, com suas construções magníficas. Poderia ficar sentada ali por horas, pensando em tudo e em nada. Imagino-me sentada num daqueles bancos da praça, enquanto tantos outros corpos caminham, e passam, e me olham e não me enxergam. Sou só mais uma entre eles. Mas tudo bem. Mal os vejo também. Não bate vento nem no Largo nem na borda da piscina. Aos poucos, iam se retirando. As águas, recém-tratadas, ficaram pacíficas. Meus pensamentos? Longe, com

Vôo 3543

Escrevo-te versos sem rimas. Dedico a ti trechos de livros onde sempre te encontro. Minha boca resseca por não ter um beijo teu. Meu corpo emagrece com a ausência que você faz. Espero-te na sala de embarque. Sem malas, sem maquiagem. Mastigarei o vão para espantar a ansiedade. Peço, por favor, que não demores. Carrego comigo somente livros e sonhos, para que sonhemos juntos e nos tornemos um só. Por que é tão difícil assim ter você pra mim?

Quarta-feira cinza

Desacreditava de tudo ouvindo o barulho da chuva. Eram duas da tarde, e todas as quartas, uma vez percebeu, chovia. Duas da tarde e ela ainda usava a mesma roupa que botou ontem à noite para sair. Não saiu. Mal dormiu. A madrugada era fria e os ossos doíam. O fêmur, o rádio e as têmporas. Acomodou-se numa poltrona de tecido gasto, com uma xícara de chocolate quente em mãos, vestindo meias coloridas e estampadas – pelo menos alguma coisa de cor em meio àquela vida gris que ela levava – e um cardigã rosa-bebê. Deixou a janela da sala entreaberta para entrar um pouco de ar e um pouco da chuva e um pouco de fé. Continuava desacreditada. Da vida, dos contos, das fadas e de tudo o que ela escrevia. Sofria com o tal complexo de inferioridade e achava-se insuficiente para tudo e todos. Não fumava nem bebia. Ficava tentada a fumar e a beber quando chegava em casa, sozinha, só para ter companhia. Companhia dos copos quebrados, dos livros espalhados e imagens espelhadas.  A sala toda continh

Vamo voltar?

Olha, eu acho que tá na hora de a gente voltar. Tá na hora de a gente tentar dar certo outra vez. Sabe, ainda tem muito de você aqui. No quarto, na sala, na minha cabeça, então... Tem um pouco de você nas cartas que guardei no fundo da gaveta, para que ninguém mais pudesse ler, nem eu mesma. Mas tem também um pouco de nós dois nas linhas dos textos que compartilho na Internet, daí todos leem e eu leio junto e leio outra vez, porque sempre acho que pode melhorar. Pode melhorar o texto e nossa relação que ficou bagunçada. Tão bagunçada quanto as roupas que você deixou no cesto de roupa suja, que estavam tão bagunçadas quanto tudo o que eu sentia e não sabia que sentia aqui dentro quando deixei você ir pela terceira vez. E é de vez, eu disse. E você foi. E deixou o cheiro do café exalando no corredor de casa e deixou o vidro do seu perfume exalando no meu travesseiro. E o meu travesseiro sente sua falta também, imagino. É que eu confidencio a ele a falta que você faz quando faz frio à

As melhores frases de 'A culpa é das estrelas'

Primeiramente, deixe-me explicar o POR QUÊ de eu não ter feito resenha desse livro até agora. Quem me conhece, sabe o-quanto-eu-sou-perdidamente-apaixonada por A culpa é das estrelas. Já li três vezes e agora tô prestes a ler mais uma vez. E não fiz a resenha dele até então, porque a) achei o livro tão fantástico, que simplesmente não quis dividir a história com vocês (hahaha) e b) porque não tem resenha que eu faça, que mostre o quanto ele merece ser lido por todas as pessoas do Universo (contradições).  Se você nunca leu ou ouviu falar (acho difícil, mas vai que né), deixe-me fazer um resumo sobre o que se trata: Hazel Graze tem 16 anos, é uma paciente terminal, que conhece Augustus Waters num grupo de apoio à crianças com câncer. Eles se apaixonam, são inteligentes, sarcásticos, vivem uma amizade e história de amor bem lindas e o câncer foi usado pra contar o amor dos dois de um ponto de vista diferente. É um livro emocionante (e eu to com medo de exagerar nos elogios). No f

História pra Malu dormir

Certo dia, a caminho de uma cidadezinha no interior de Manaus, a menina Malu ouviu a seguinte história:   - Era uma vez, uma princesa chamada Malu. Ela adorava fotografar e decidiu meter o pé na estrada. Ela apanhou sua câmera e encheu a mochila de livros, cadernos, canetas (ela gostava muito de canetas), alguns mantimentos e sonhos. A princesa dirigiu pela estrada coberta de nevoeiro e fotografou alguns riachos e algumas crianças que por ali passavam, acompanhadas de suas mães, irmãos ou cachorros. Ela fotografou algumas árvores de galhos secos e começou a ganhar inspiração para contar algumas histórias. Resolveu estender uma toalha de piquenique embaixo de uma mangueira descarregada de frutos e pôs-se a escrever. A princesa Malu escrevia muito bem! Escreveu tanto que dormiu. Mas a menina Malu não dormiu ouvindo aquela história. Ela ficou irritada e chorou o resto da viagem.

Sobre a vida real

Bem... Eu realmente não sei como começar. Há semanas recuso a aceitar a (minha) vida como ela é, de fato. Existe um lugar - na verdade, ele não existe - onde tudo o que acontece é mais prazeroso. Esse lugar existe quando encontro-me sozinha, ou quando estou submersa em minhas leituras, ou viajando numa terceira dimensão através do meu fone de ouvido. Há semanas minhas fantasias tornaram-se frequentes, desviando minha atenção da realidade. Perdi o foco (a força e a fé, também). Anseio por sonhos que, aparentemente, serão apenas sonhos, tanto agora, quanto amanhã ou depois, ou daqui a cinco ou dez anos. Deixei de aceitar a realidade, porque me perdi nas minhas próprias histórias inventadas. Acontece que, obrigatoriamente, preciso desassociar o imaginário do real, vez ou outra. E então bate a amargura, o medo. Bate a solidão e a tristeza por perceber que minhas metas estão distantes. Bate nostalgia de um passado bom, que vivi ocasionalmente e não mais irá voltar. Fico frustrada quando pe

O oi e o adeus.

Ela apareceu numa noite fria e qualquer. Tinha acabado de chegar de viagem, vinda de outro estado. Por causa de conhecidos em comum, eu a conheci. E ela chegou tímida, com o olhar carregado de inocência, medo e curiosidade. No começo, falava pouco e falava baixo. Quase não largava o celular e sorria sozinha com os textos que apareciam na tela. E a cada sorriso, eu comecei a querê-la para mim. Queria tomá-la em meus braços e acariciar sua pele e seus cabelos.  No primeiro cumprimento que fizemos, logo na primeira noite em que a busquei no hotel, abraçou-me forte. E eu pude sentir o perfume que vinha de sua nuca. Ela abraçava forte toda e qualquer pessoa que eu lhe apresentava. E distribuía seu sorriso e olhar cativante. Levei-a para passear em alguns cantos da cidade, visitar novos lugares - ela já havia preparado uma lista de lugares para visitar, na verdade - e dentro do carro esquecia-se da timidez. Deliciava-se com as músicas que eu colocava e que ela, até então, nunca havia esc

Monocromático sépia

A tristeza parece infinita sim. Sinto-me incompleta e nada me agrada. Vejo-me perdida e o único caminho que eu gostaria de seguir está bloqueado. Preencho-me com a falta de vontade. Preencho-me de vazio. Folhas de papel tornaram-se companheiras, mas permanecem limpas. Os pensamentos são muitos. Lágrimas também. Recito ao invés de escrever - parece mais real. Declaro-me em vão e a declaração se desfaz ao vento. Definitivamente, desconheço meus anseios. Fico submersa nesse vazio. E os meus dias têm sido assim: monocromáticos.

Eu prefiro

Tuas covinhas. Tua barba. Teu sorriso. Tua boca. Teu perfume. Tua companhia. Teu violão. Teu carro. Teu quarto. Teus textos. Tuas canções. Tua mão na minha. No meu cabelo. Teu corpo no meu. Tua voz. Eu prefiro morar com você. Viajar à noite e fugir contigo. Dormir na praia, observar estrelas. Tomar banho na chuva, no mar e no rio. Prefiro. Fotografar teu sono. Tua raiva. Teu ciúme. Tuas piadinhas bobas. Prefiro que você me balance no balanço do nosso quintal. O nosso balanço na rede. Prefiro teu café e teu cafuné. Prefiro teu número de celular, que tem um dígito a mais que o meu. DM. Prefiro eu aí. Prefiro você perto e comigo. Prefiro dizer acordei-pensando-em-você do que dizer. Gosto de você e. Te amo.  Prefiro dormir e acordar com. Você eu prefiro. Nós dois.

Porque eu gostei de você

Eu gostava da forma como nós acordávamos juntos. Da tua cara amassada, do teu sorriso torto e das tuas palavras que costumavam enfeitar a caixa de entrada do meu celular, todas as manhãs. Eu gostava da forma como você contava histórias e dos teus sonhos sempre tão exóticos, cobertos de imaginação e de como eu também começava a (me) imaginar com você. Gostava da tua mão e ainda gosto da tua cadela. Eu gostei de você, porque você foi o único que me fez achar que barba é uma coisa atraente e bonita, porque você é bonito e atraente. Acho. Eu gostei de você, porque contigo eu aprendi a gostar das pessoas pelo o que elas são (e dizem), e não da aparência que elas carregam. Sim, isso é uma contradição. Como é a sua aparência mesmo? Como é a sua voz? Eu gostei de você, porque você me ganhou sem fazer esforço nenhum, sem tentar me impressionar (só irritar). Gostava da forma como você me irritava e dos apelidos carinhosos que a gente foi inventando, que se tornou coisa particular nossa. Só minh

Insanidade (senti)mental

Meu travesseiro tem um pouco de você. Meus pensamentos projetam tua imagem, um esboço qualquer, um vulto, uma vinheta desconhecida e bela. Os livros que eu leio têm referência sua, nossa e das coisas que a gente diz, ou que eu gostaria de dizer, mas você nunca leva a sério e então eu não digo mais. Sabe quantas vezes eu já tentei desassociar a tua vida da minha? Nem eu. Perdi a conta e eu só sei contar até três. Eu, você e mais alguém que completa a gente. Eu sei, eu to enlouquecendo mesmo. Enlouqueci gradativamente, sem esforço nenhum. Eu abordo desconhecidos na rua pra falar de outro desconhecido. A história fica pela metade, porque eu não pretendo terminá-la. Eu não to nem aí se você não quer me ver, mas semana que vem tô me mudando pra sua rua pra gente ser feliz.

Tolice

Tenho sonhos tolos, desses que ninguém acha graça nem põe muita fé. Será que um dia consigo realizar pelo menos um? Eu quero ter uma casa grande, amadeirada, com quatro cachorros e três quartos. E muitos livros. Eu tenho vontade de morar sozinha com 25 anos. Tenho vontade de dirigir, pra meter o pé na estrada e parar num quilômetro qualquer e fotografar aqueles riachos, sabe? (aqueles, você sabe) Eu quero fazer publicidade. E tatuar 'MAKTUB'. Tenho vontade de ter uma melhor amiga, que possa dormir na minha casa, de vez em quando. Daí a gente assiste filmes, desses sem pé nem cabeça (tipo Sociedade dos Poetas Mortos) ou então a gente conversa e ri até tarde da noite/madrugada/manhã. Dessas que te deixam falar do mesmo garoto o tempo inteiro, com a mesma empolgação, a mesma felicidade, até a felicidade se transformar em choro. E ela também lê teus textos e gosta (ou não) e também escreve textos. Eu costumava ter uma melhor amiga dessa, até eu engravidar. E me mudar. E ela também

Desabafo I

Já se passou uma hora desde que cheguei no trabalho. E eu aqui, toda atarefada, mas sem conseguir me concentrar. Tem cerca de sete ou oito abas abertas numa única janela, o que torna mais lenta ainda a minha produção. Sabe quando não dá pra tirar alguém da cabeça, mesmo quando a sua vontade é esquecê-la de vez? Eu durmo e acordo pensando a mesma coisa, todos os dias. Meus pensamentos resumem-se a uma única pessoa. Minha mãe tem razão em me achar tola e idiota; meus amigos têm razão por não me darem ouvidos. (To oscilando entre a edição desse texto e a montagem do clippin g. Querendo ou não, conseguindo ou não, eu preciso fazer isso). Aí, eu paro e me pergunto se você pensa em mim com a mesma intensidade que eu penso em você. Me pergunto se você sente vontade de ficar comigo, assim como eu sinto. (ai, meu Deus, eu vou atrasar tudo aqui). Eu gostaria de não ser tão viciada em redes sociais. Sério. Isso é um problema. Eu quero desativar o Twitter e o Facebook, só para evitar ler aquelas

Ribeirinha

Mostraram-me uma bela paisagem: árvores de galhos secos, crescidas dentro da água. As marcas da enchente, que agora diminuía de nível, estavam estampadas nos largos troncos da Sumaúma. Ao longe, uma casa de madeira, cercada pelo verde e pelo rio. No horizonte, o Sol estava se pondo e a calmaria soprava vento no rosto, espalhando os fios soltos do coque no alto da cabeça. Eu ficaria naquele barco até anoitecer. Os pássaros deixariam o céu e se esconderiam no meio da floresta, deixando a mim somente o doce som de seu canto. As estrelas apareceriam e eu estaria deitada, dentro do barco, observando o movimento de cada uma delas. Astronomia é fascinante; um dia aprendo a reconhecer a constelação de Órion. Nunca mais vi uma estrela-cadente. E eu preciso pedir tanta coisa! Tenho sentido uma grande atração por árvores de galhos secos. Altas, elas destacam-se entre as folhagens presas a troncos curtos. E permanecem com uma beleza diferenciada justamente pela ausência de folhagem.  Mas eu não s
Nossos caminhos nunca serão um só. Um dia se cruzaram, nem sei como, perderam-se por um tempo, e tornaram-se a se juntar. Mas nunca sendo um caminho só. Tento administrar esse sentimento que me impede de seguir adiante, de conhecer mais gente, me envolver com outros. Quero me livrar disso - e ao mesmo tempo não quero. E se me perguntarem, algum dia, como era o amor da minha vida, eu direi: não conheci.

Névoa de agosto

Na viagem de volta para casa, ela desejava que aquele caminho a levasse até ele. Assim. Por algumas horas. Em terra firme. Com o vento batendo no rosto, que mal dava para ouvir o som do carro e bagunçava os fios do cabelo. Ele dizia sentir falta dela e do cheiro que acumulava no seu pescoço, quando ela saía do banho. Sentia falta do modo como ela se aninhava no peito dele, antes de dormir. Era, porém, moça proibida, de caminhos diferentes, de lugares distantes, que acumularia lembranças depois. Moça tagarela, do canto alegre e desafinado. Ela já nem sempre tão alegre assim, percebia ele, mas com um sorriso encantador. Ela queria o jovem guitarrista, da barba mal feita, da voz aveludada. Porém era moço proibido. Lindo demais para mim, pensava. Moço responsável e dócil, gentil e nobre. Os pensamentos se vão e ela se concentra no vento que vem da estrada. Parou num acostamento e observou as árvores que balançavam. Sempre quis acampar com ele; faziam planos. Barraca, fogueira, marshmallow

RESENHA: Extraordinário - R.J. Palacio

Extraordinário é um livro muito bom! Muito mesmo. Fiquei feliz que ele tenha conseguido prender minha atenção, porque logo no começo achei meio entediante e fiquei com medo de abandonar a leitura. Mas ele traz uma mensagem muito bonita e se eu tivesse que classificar de uma a cinco estrelas, eu marcaria quatro estrelas.  SINOPSE: August (Auggie) Pullman nasceu com uma síndrome genética cuja sequela é uma severa deformidade facial, que lhe impôs diversas cirurgias e complicações médicas. Por isso ele nunca frequentou uma escola de verdade... até agora. Todo mundo sabe que é difícil ser um aluno novo, mais ainda quando se tem um rosto tão diferente. Prestes a começar o quinto ano em um colégio particular de Nova York, Auggie tem uma missão nada fácil pela frente: convencer os colegas de que, apesar da aparência incomum, ele é um menino igual a todos os outros. Confesso que fiquei irritada com o Auggie no comecinho do livro, porque ele reclama do jeito como as pessoas olham pra el
Escreva-me versos. Mande-os em cartas transcritas à tinta. Com tua inteligência abusiva. Excessiva. Transforma-me em teu par de dança nas noites frias, em frente à lareira.

Falta.

Queria entender esse meu afeto repentino por pessoas recém-conhecidas. A minha extrema necessidade de conversação e interação com quem, até então, era inexistente para mim. Queria entender como é possível sentir falta do que foi vivido em um pequeno espaço de tempo e até mesmo do que nem foi vivenciado ainda - nem será. Eu tenho me cansado das pessoas de sempre, de suas conversas sempre tão melancólicas - e veja bem, eu adoro tons de melancolia em cenas do cotidiano!-, seus assuntos sempre tão vazios e desinteressantes - e veja bem, eu sou a pessoa mais desinteressante do universo! Abro a agenda de sempre, rabiscada com uma coisinha aqui, outra ali, no cabeçalho, no rodapé da página, fico imaginando algumas outras tantas viagens e penso no quanto o mundo é gigante e eu adoraria conhecer mais pessoas, nem que fosse por dez dias. E talvez elas me fizessem escrever um trecho novo na minha agenda de sempre, me levariam para fotografar e conhecer outros lugares e me fariam escutar músicas

Uma semana

É que uma semana acaba sendo muito e no final não foi quase nada. Eu vi o mar e senti o gosto salgado. Do mar. Das brigas. Do beijo. Senti o gosto amargo do ciúme e da frustração, por não ter tido o que eu queria, quem eu queria. De repente, o destino surpreende, mostra o violão e o guri magrinho do sorriso bonito. Da voz mansa. O abraço apertado. O carinho no cabelo. E vimos o sol nascendo na companhia do frio ("o nome disso é vento", disse alguém), das areias entranhadas na calça jeans e do violão. Fotos e música. Passeios e risadas. Filmes e chocolate. E ainda assim faltou. Faltou o que eu tanto queria. Quem eu tanto queria e ainda quero. Deixa para uma próxima semana, numa outra viagem. Num outro lugar. Numa outra vida, talvez. O que eu queria mesmo? Voltar para casa.

Nem sei.

Não me perguntes o que me tem ocorrido. Nem eu saberia responder. Mas é que de repente, do nada, essa sensação de vazio toma conta do peito; e aperta, e a dor escorre pelos olhos. Talvez estranhes, já que ando sempre tão sorridente; é para não perder o costume. Ninguém tem nada a ver com os problemas da gente, não é? Nem mesmo os responsáveis pelos nossos problemas. Talvez nem exista problema; é tudo fruto da imaginação. Encontro-me no fundo do poço, a um passo de desistir de tudo. Então a lembrança de uma criatura falante, pequenina e sorridente me revigora. 

Destino.

Seu nome estava escrito no ticket da minha viagem. Você era meu único destino naquele momento. Eu ia até você, entregaria beijos embrulhados num lenço perfumado.  E uma caixa com um coração remendado. Você não me permitiu sair da esquina, quem dirá chegar ao aeroporto? Voltei para casa. A caixa ficou no caminho - alguém vai encontrar e vai cuidar do que tem dentro, talvez. E como é de praxe, acabei sozinha na minha cama, coberta por lençois amarrotados, dividindo o espaço com lembranças de quem não vi.

Medo

Acostumamo-nos com a presença um do outro. Com as palavras meio ditas e com as não ditas e com as ditas nas entrelinhas. Acostumamo-nos com esse quero-que-seja-mas-nunca-será que colecionamos aos poucos, um pouco a cada dia, seja por querer muito, por querer perto, querer sempre e nunca ter. E de repente, te perco de vista por umas horas, por alguns dias e os dias se arrastam. A mente imagina horrores, o coração padece só de imaginar junto e faço tempestades em copo de leite - o que tomo sempre antes de dormir. Na maioria das vezes, nada acontece. Logo, é tudo desnecessário. Volta a ser a doce ilusão de sempre, que me sustenta, que me acalenta, que me abraça antes de dormir. A ilusão de que me beijas e acaricias o cabelo, arranha-me as costas. Tudo isso sempre volta. Ainda assim, o ar falha quando não estás, seguro o choro, tranco o quarto, fecho as janelas, me escondo por debaixo das cobertas para que vejas como sofro sem você comigo. Mas não quero que ninguém me veja. Não quero dar

Paralelo

Liguei o chuveiro. Aumentei a temperatura. A água começou a cair e com ela veio o vapor. Realmente estava muito quente. Lavei os cabelos e deixei que a água fizesse seu percurso. Deixei que ela lavasse por si só cada parte do meu corpo, mas principalmente os pensamentos que tomavam conta de mim naquele momento. Tirei a sujeira, o pó, o resto das impurezas e a maquiagem borrada. A pele ardia, ficava vermelha, o vapor sufocava e eu não me importaria se chegasse a ferir; os pensamentos eram muito piores, provocam mais dor do que qualquer outra coisa. O peito estava apertado, querendo gritar, querendo um pouquinho só de atenção. Me encolhi no canto do banheiro, observando a água que caía e com ela, algumas lágrimas escorreram também. Sentada ali, sozinha, percebi como aquele minúsculo banheiro se tornara tão grande. Faltava alguma coisa. Faltava alguém. O vazio reinava e o silêncio provocava vozes na minha cabeça. E agora a água já queimava, mas eu não me importava, porque ela queimaria o

Talvez

Estive pensando... E talvez você pudesse me pegar no colo, novamente. Não lembro se já pegou alguma vez. É que eu sinto falta do teu abraço e talvez você sinta do meu - não lembro se já o abracei alguma vez. Mas é que agora tu me necessitas e me faço ausente. E um abraço seria a ponte que nos levaria do turbulento presente às memórias de um passado feliz. As coisas bem que poderiam ser diferentes, não?

Para registrar

Preciso de uma câmera que ninguém dá, mas tudo bem. Eu registraria seu despertar, com a cara amassada e o cabelo bagunçado. Registraria você entrando no banho, sem roupa mesmo, o que tem de errado? E depois registraria a frase que você sempre escreve para mim no vidro do box, que embaça com o vapor que vem do chuveiro. Colocaria no automático e registraria o momento em que entro no banho com você, com roupa de dormir ainda. Vai, pega uma toalha, que tenho que continuar. Mas antes deixa eu registrar um beijo nosso debaixo da água quente, através do vidro embaçado. Eu registraria você coando o café; depois, nós dois sentados debaixo da árvore no quintal, com os cachorros entre a gente, tomando café também. Registraria os cachorros, as bolachas espalhadas e as formigas vindo nos fazer companhia. E a árvore que nos concede um pouco de sombra. Mas é hora de trabalhar e, então, registro o momento em que você fica sério na frente do computador, escrevendo sua matéria e olhando os noticiá

DA INTERNET: Namore um cara que goste de cultura - Marcella Brafman

Namore um cara que aprecie cultura. Namore um cara que tenha alguns livros, DVDs e quadros pelo quarto. Um cara que te ensine coisas novas, cite alguns autores que você nunca ouviu falar e te faça pesquisar algo no Google.  Você deve encontrá-lo em uma livraria ou em um show da banda de amigos em comum. Encostado no bar comprando uma Heineken ou observando os quadros. Esse cara tem a energia leve e é muito fácil pousar os olhos sobre ele sem querer. Escute-o contar sobre as suas viagens e pensamentos mais estranhos. Namorar um cara que goste de literatura, música e escrita é voar junto com ele. Esse cara tem a imaginação fértil e sonha em explorar o mundo. Você também. Só não tinha encontrado ainda alguém que acompanhe tão perfeitamente os seus passos. Talvez ele goste de rock antigo. Los Hermanos ou é mais bossa nova. Ou seja um cara mais moderno e curta indie. Esse cara já foi vocalista de uma banda, guitarrista de outra ou toca violão sozinho no quarto. Talvez ele também saib

RESENHA: Proibida pra mim - Gustavo Reiz

Oi, gente! É com muita empolgação que venho escrever a resenha de hoje, que é do divertidíssimo livro Proibida pra mim , do Gustavo Reiz . E vou confessar: incorporei CADA PERSONAGEM! A 'trama' é típica de temporadas da Malhação, sabe? Sem contar que esse título me lembrou o Chorão e, logo, despertou minha curiosidade (não sei se teve alguma inspiração na música de mesmo nome, mas acredito que sim, já que envolve música e rock e tal). Mas o fato é que eu adoro romance, se for adolescente, então, melhor ainda! Eu ri MUITO, chorei pouquinho (é lei!), mas foi de inveja porque eu AINDA ACREDITO que vou me apaixonar por um cara que toca violão e vai fazer uma música pra mim, assim como no livro. Não? Tudo bem #desilusões. Vamos à resenha: o livro conta a história do romance proibido entre os adolescentes Pedro e Lia. Ele, compositor da banda Os Infiltrados, filho da compreensível Simone e do ocupadíssimo Ricardo, e amigo de Ogro, Rafa, Japa e Arthur - todos são umas figuras,

Eu não quero estar certa

Isso deveria ser errado. Eu sonhar com ele todos os dias. Não sonho à noite, se sonho não lembro e prefiro sonhar durante o dia mesmo. Mas imagino-o aqui e desejo que ele estivesse aqui, comigo. E não é de hoje e não sei como foi. Mas agora é assim e deveria ser errado. Cada palavra que ele escreve, o modo como se refere a mim – será tudo verdade? – e eu acredito em cada vírgula. Deveria ser errado, já que nem ao menos posso vê-lo nem ouvi-lo e ainda assim o quero para mim. E somente para mim. E nem sei como deve ser o lado de lá, o que se passa no interior dele, mas ele faz com que eu o deseje antes de dormir e acorde esperando por um único e pequeno sinal de que pensa em mim também. Sentada aqui no piso frio, com uma música ao fundo, de uma banda que mal conheço, eu gostaria que ele estivesse me abraçando – ao som dessa música. Aqui no chão frio.  Eu queria passar minha boca em cada parte do corpo dele. E queria tocá-lo e senti-lo. E eu sinto, às vezes. Mas eu estou de olhos fe

All we need

Eu não preciso de muita coisa. Coloca o pen drive na televisão, escolhe a pasta com nossos arquivos (‘Eu e Ele’), deixa que as músicas fiquem tocando no aleatório e deita aqui comigo. Abre a janela pra gente deitar na cama olhando o céu azul, através do vidro ou deixa a janela fechada mesmo, liga esse ar-condicionado e prepara as cobertas pra eu te abraçar. De um jeito ou de outro você é minha melhor companhia, no calor ou no frio, perto ou longe. E eu prefiro você me abraçando por trás e me puxando pra dançar. E eu prefiro você pulando em cima de mim quando eu to dormindo e me puxa pra perto e conta histórias. Ainda que eu esteja meio acordada, meio adormecida. E eu prefiro você lendo na varanda com aquele cigarro horroroso e fedorento, que me dá alergia, mas te observo de longe. E eu prefiro quando você traz comida pra mim do supermercado, porque você odeia supermercado, mas traz comida sem eu pedir e até sorvete, se duvidar. E eu preciso só de você mesmo.

Entrelinhas

Sabia que não chove desde quando você foi embora? E isso é bom. Porque eu lembro do barulho da chuva caindo, como naquele dia em que você apareceu na minha casa, no meio da noite, batendo na janela do meu quarto, me pedindo para ir lá fora, e havia esquecido o celular e não tinha como avisar. E nós dois ficamos abraçados no pátio da minha casa, enquanto todos dormiam. Só eu, você e a chuva. E eu não senti frio naquela noite. Você deitou com a cabeça no meu colo e eu acariciei cada centímetro do teu rosto, com a tua barba espinhando minha pele, mas eu não me importei, porque teu rosto estava macio do mesmo jeito. Acariciei seus lábios e eu coloquei uma música para tocar no meu celular, bem baixinho, uma música qualquer, que depois daquela noite já não seria mais uma música qualquer. Seria a nossa música: minha, sua e da chuva que caía. E então, de repente, você disse que precisava pensar melhor. Sobre a gente. Que gostava da minha companhia e eu era muito especial para você. Você d