Pergunto-me como sabemos decodificar sentimentos. Eu sei, é chato ter que me ouvir falar sempre a mesma coisa, todas as vezes que nos encontramos. Mas dessa vez é diferente: estamos sozinhos na minha casa, pela primeira vez - sozinhos e na minha casa -, e eu tô sentada aqui, dividindo minha atenção entre saber interpretar sentimentos, saber quando aquele feijão no fogo vai estar pronto para ser servido, e como servi-los a você - o feijão e minha reflexão sobre sentimentos. Você sabe, eu nunca fui muito boa com feijões, na verdade, nunca fui boa na cozinha, mas a gente tenta. E também nunca fui boa em falar sobre sentimentos. Os feijões, por exemplo, eu nunca soube qual é o momento exato de retirá-los do fogo. Nunca soube a quantidade certa de tempero nem quais são os temperos certos, para que não fique exageradamente salgado ou terrivelmente insosso. Ah sim. O que tem a ver sentimento com os feijões? É que eu também nunca sei o momento certo para falar sobre o que eu sinto - e muitas