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Mostrando postagens de julho, 2012

Veja bem

Você não imagina como é chata essa atitude em querer transparecer sofrimento e dor, bancar a mocinha da história e se fazer de coitada. É chato ter que ouvir lamentações o tempo todo, quando o que você mais precisa é ouvir histórias engraçadas ou qualquer outra história diferente do que já está acostumado a ouvir e ver e viver todos os dias. É estressante sentir a falta de uma pessoa, ligar pra ela pra matar a saudade, e lá do outro da linha você só escuta noticias ruins, de doenças e perdas, derrotas e fracassos. Então, resolvi não ligar mais.

Ana Crônico

Ana habitava numa casa um tanto imperial. Lustres de vidro enfeitavam as salas aconchegantes e o piso era feito de madeira envernizada. As escadarias possuíam detalhes artesanais que ela mesma fizera. Ana vivia sozinha; não gostava de baladas, não gostava de agito e guardava uma máquina de datilografar no sótão, que herdara de sua avó. Ana tinha apenas 19 anos e saíra há pouco tempo da casa dos pais. Sempre teve esse gosto por coisas antigas, que tivessem uma história por trás de todas elas. No corredor da casa haviam quadros feitos em tintura a óleo, cada um retratando diferentes paisagens. Nos tempos de escola foi apelidada de ‘anacrônico’, graças ao seu bom gosto por objetos gastos e sua mania de sempre ficar só. Odiava quando as meninas populares tentavam, de todas as maneiras, implicar com seu cabelo despenteado e seu all-star rasgado. Até suas próprias primas criticavam seu estilo largado e despreocupado. Eis a razão pela qual não se sentira bem na casa dos pais, que estava

Dia 18

Seria um baile dos 15 anos de alguém. Festa à fantasia, com o tema clássico de príncipes e princesas. Todos mascarados e meninas com vestidos perfeitamente trabalhados. Numa determinada hora, eu subira as imensas escadas do castelo em busca do toillet mais próximo e parei pra observar a lua, que refletia seu brilho através das janelas cobertas por longas e delicadas cortinas. Eu já não lembrara a razão pela qual estava ali e esqueci de vez quando vi você subindo a escadaria com um sorriso lindo, terno impecável e a famosa flor vermelha no bolso esquerdo do paletó. Você se juntou a mim e ficamos contemplando a lua por um tempo. E depois de muita conversa, nossos lábios se tocaram pela primeira vez. Pelo menos foi assim em todos os meus sonhos. Durante várias noites eu sonhava com essa cena e por muitos dias eu esperei por esse beijo. E quando ele veio, foi entre o vai e vem de carros e o tagarelar de pessoas estressadas e cansadas depois de um dia cheio de estudo e trabalho. Mas nada

A arte de desacreditar

E aos poucos a gente vai desacreditando. Das pessoas, das atitudes delas, dos abraços, das palavras de conforto, de dois beijinhos e dos gritos histéricos das meninas preocupadas com o resultado de uma tarde inteira de salão. Sim. Até o tal gritinho é teatral demais, tudo combinado. Não dá pra acreditar na mãe, no pai e no filho. A gente quer acreditar no marido da filha da vizinha que acabou de se mudar, porque acreditar em quem você confiou a vida inteira acaba se tornando frustrante demais. E você fica absurdamente espantada em ver como as pessoas mentem tão bem, contracenam tão bem, conseguem fingir sem o mínimo de remorso ou culpa. São conversas bobas, histórias falsas e desconexas. E foi preciso esperar uma eternidade de tempo pra perceber que o inimigo mora ao lado, dorme junto, almoça e janta na mesma mesa.