Pular para o conteúdo principal

Névoa de agosto

Na viagem de volta para casa, ela desejava que aquele caminho a levasse até ele. Assim. Por algumas horas. Em terra firme. Com o vento batendo no rosto, que mal dava para ouvir o som do carro e bagunçava os fios do cabelo. Ele dizia sentir falta dela e do cheiro que acumulava no seu pescoço, quando ela saía do banho. Sentia falta do modo como ela se aninhava no peito dele, antes de dormir. Era, porém, moça proibida, de caminhos diferentes, de lugares distantes, que acumularia lembranças depois. Moça tagarela, do canto alegre e desafinado. Ela já nem sempre tão alegre assim, percebia ele, mas com um sorriso encantador. Ela queria o jovem guitarrista, da barba mal feita, da voz aveludada. Porém era moço proibido. Lindo demais para mim, pensava. Moço responsável e dócil, gentil e nobre. Os pensamentos se vão e ela se concentra no vento que vem da estrada. Parou num acostamento e observou as árvores que balançavam. Sempre quis acampar com ele; faziam planos. Barraca, fogueira, marshmallows e violão. O repelente também, é claro. Em meio às árvores, um riacho cercado por pedras - o cenário perfeito para a primeira noite. Mas era manhãzinha. Encontrava-se sozinha numa rodovia silenciosa e coberta pela névoa seca - nem mesmo o canto dos pássaros lhe faziam companhia. E a gente fica pensando, moço: valerá a pena sentir isso tudo? Valerá a pena esperar acordada por um futuro que nem sabemos se vai chegar? "Você gostou mesmo de mim não é, moça? E isso é ruim? Claro que não. Só é distante". É crueldade permanecer na dúvida se devo cortar a empolgação pela raiz ou se posso continuar sonhando feliz. Já é quase de manhã; é hora de me deparar com a névoa a caminho do trabalho. É agosto. E eu só queria trazer você pra cá, para esquentar meus pés. 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

As melhores frases de Will e Will (John Green e David Levithan)

Esse livro é sensacional! E eu poderia listar N motivos que me fizeram devorá-lo em três dias, que pra mim ainda foi muito , mas vou dizer só alguns: a) serviu de consolo por eu ter me decepcionado com Quem é você, Alasca? (fiquei tão desapontada, que abandonei o livro na metade. Não gostei. Me julguem); b) Me identifiquei com o Will gay por ele ter um namorado virtual (mas o meu existe. Acho. Brincadeirinha, existe sim); c) Eu tenho amigos gays tão divertidos quanto Tiny Cooper (o melhor amigo do Will hétero ) e quero que eles também leiam esse livro; d) Tem comparações, frases, metáforas tão inteligentes quanto em ACEDE (ou A culpa é das estrelas , para os leigos a propósito, eu chorei rios quando assisti o filme, e vocês? ). Aí você deve tá se perguntando "como assim Will gay e Will hétero, Alaiza?". Bem, é que Will Grayson, Will Grayson (título original) conta a história de dois garotos com o mesmo nome, porém um é gay e o outro é o melhor amigo de um super gay

RESENHA: Proibida pra mim - Gustavo Reiz

Oi, gente! É com muita empolgação que venho escrever a resenha de hoje, que é do divertidíssimo livro Proibida pra mim , do Gustavo Reiz . E vou confessar: incorporei CADA PERSONAGEM! A 'trama' é típica de temporadas da Malhação, sabe? Sem contar que esse título me lembrou o Chorão e, logo, despertou minha curiosidade (não sei se teve alguma inspiração na música de mesmo nome, mas acredito que sim, já que envolve música e rock e tal). Mas o fato é que eu adoro romance, se for adolescente, então, melhor ainda! Eu ri MUITO, chorei pouquinho (é lei!), mas foi de inveja porque eu AINDA ACREDITO que vou me apaixonar por um cara que toca violão e vai fazer uma música pra mim, assim como no livro. Não? Tudo bem #desilusões. Vamos à resenha: o livro conta a história do romance proibido entre os adolescentes Pedro e Lia. Ele, compositor da banda Os Infiltrados, filho da compreensível Simone e do ocupadíssimo Ricardo, e amigo de Ogro, Rafa, Japa e Arthur - todos são umas figuras,

Amar é viajar

(ao meu amor, que topou essa viagem louca) Então amar talvez seja isso: encontrar a calmaria depois de enfrentar águas turbulentas  Aprender a guiar o barco, a tocar em frente, Tentar não morrer na praia.  Amar é se arriscar numa viagem que a gente não conhece o destino final e nem quer que tenha final; é saber que vai enfrentar uns caminhos ruins, mas que isso não pode nos impedir de irmos adiante. Amar é seguir junto mesmo sem saber como que o barco funciona - e a gente vai descobrindo.  Nessa viagem louca que a gente nunca vai sozinho, aprendemos a estender a mão para o outro não cair. Às vezes a gente dá passos mais adiantados. Outras vezes, mais lentos. As vezes a gente discorda sobre qual direção seguir, mas é preciso chegar num acordo. E sempre chegamos.  As viagens são estressantes. Viajar cansa, né? Principalmente quando é a gente que tem que recalcular a rota, encontrar as saídas.  As vezes a gente quer abandonar o barco e seguir numa outra direção. Acho que amar também é iss