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Malu

Quando eu soube que você estava vindo, foi uma surpresa. Não era pra ser ainda. Mas foi. Você estava a caminho e eu não tinha ideia do que fazer, a não ser te esperar. Me disseram que a criança reconhece a voz da mãe mesmo dentro da barriga e eu cantava Los Hermanos. Hoje em dia eu quase nem escuto e você detesta música triste. Durante toda a espera, me surgiram medos e preocupações. O maior de todos os medos que eu tinha era de que você não gostasse de mim. Eu ficava me perguntando se nós seríamos amigas, se eu ia conseguir te fazer sorrir, se você confiaria a mim os segredos e se nós brincaríamos bastante juntas. Tive medo que você preferisse suas “tias” (primas) do que eu; elas sempre levaram muito mais jeito com crianças. Aí você veio. Eu sempre estive do seu lado. Vi seus primeiros passos, seus primeiros dentinhos. Ouvi suas primeiras palavras. Te apresentei os livros e você se apaixonou por eles. Te acostumei a dormir do meu ladinho – mais precisamente entre mim e sua vó, na mesma cama – e quando vou dormir, me esquento no seu abraço. Seu corpo é quente, mesmo quando o quarto tá frio. Você foi importante pra mim desde o primeiro momento. Tive ciúmes de quando te pegavam no colo. Ficava chateada quando falavam das suas gordurinhas, porque só eu podia falar delas. Passei pra você o meu pavor de barata e hoje em dia nós duas gritamos quando alguma aparece no quarto. Você ouve meus choros e chora junto comigo. Me abraça quando me vê triste e às vezes já até sabe até o motivo. Mesmo assim você nunca me julga. Só me ouve e fica ali, sentadinha do meu lado, esperando a tristeza passar, ansiosa pra brincar de mãe e filha com todas as suas cinco bonecas com nomes americanos. Todos aqueles medos partiram aos poucos, à medida em que você foi crescendo. Você gosta de brincar comigo. Me chama mais de “amiga” do que de “mãe”. Me acompanha quando resolvo tocar violão e adora dançar na sala, rodopiando sem medo de cair, porque sabe que eu vou tá lá pra beijar seus machucados, te dar colo e carinho, como eu sempre dei. Antes de dormir você me pede historinha. E mesmo com a minha impaciência de mãe, e todos os meus gritos e estresse do dia-a-dia, você é carinhosa, é engraçada e torna o pior dos meus dias, no mais feliz. Mamãe é chata mesmo, filha. Mamãe briga, mamãe bate quando você responde e teima. Mas ainda vai levar um tempo para que você entenda isso. Te escrevo isso agora, do alto dos seus quatro aninhos, porque você é a criatura mais doce e decidida e temperamental que eu já conheci com tão pouca idade. Te escrevo, porque você é a minha maior inspiração. Porque mesmo que eu não faça muito, eu faço tudo por você. Você é parte de mim. A melhor parte. E eu vivo por você. E ninguém, NINGUÉM tem o direito de dizer que eu não te cuido, baixinha. Você é a minha vida e tudo o que mais me importa nesse mundo. Eu te amo.  

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