Ele tinha todos os motivos para confiar em mim. Entreguei a
ele meus sentimentos mais sinceros. Me dediquei totalmente à nossa relação,
como jamais havia feito. Deixei de sair. Evitei usar meus shorts curtos. Tudo na
intenção de aumentar a confiança dele, de fazê-lo enxergar que faria qualquer
coisa por ele. Fiz de tudo para que ele tivesse a mais plena certeza de que ele
era tudo para mim.
Um erro.
Conhecidos meus postavam frases e fotos nas redes
sociais e eu curtia, como sempre fiz; colegas e amigos de toda uma vida, com
quem eu nunca havia tido nada além de amizade. Eu achava legal a foto com o cachorro,
a formatura, a viagem, fotos com a mãe. Ele não gostava, se sentia traído caso
eu curtisse alguma coisa.
Para ele ver que podia confiar em mim, deixei de
curtir.
Fotos de caras sem camisa ou aparentemente bonitos eu ignorava
completamente, para ele não pensar besteira, para não ter motivo pra se
irritar. Eu me declarava para ele em todo o canto para que todos vissem o
quanto ele era importante na minha vida. Ele raramente fazia isso por mim. Ele tinha minha senha do Facebook e controlava minhas conversas, controlaria minha respiração, se pudesse.
Eu sequer poderia mencionar a ideia em ter a senha dele. Mas
ele tinha amigas.
Eu não gostava de muitas delas, confesso. Surtava de ciúme
quando ele curtia publicações de algumas. Foto delas de biquíni, de shortinho,
de decote ou mostrando a barriga. E quando ele comentava algo cheio de segundas
intenções e elas respondiam de volta, sentia uma facada nas minhas costas. Meu
mundo desmoronava quando eles postavam fotos abraçados ou quando conversavam
até de madrugada por aplicativos de mensagens.
Ele sabia que me incomodava. Custava
evitar? Pedi para que ele parasse, pois eu não gostava. Ele continuou.
Disse
que faria o que quisesse, pois era homem, além do mais fazia sem nenhum interesse;
eram apenas amigos, muito antes de eu aparecer. Eu não conseguia conter meu
ciúme. Gritava com ele, brigava, passava horas chorando no telefone e ele ria
de mim, me achava louca. Me excluía das redes sociais dele, já que eu reclamava
tanto. E dizia que não iria mudar, não deixaria de fazer nada por minha causa,
e se eu estivesse achando ruim, que eu “caísse fora”.
Comecei a ficar
deprimida. Ele não me amava do mesmo jeito. Foi então que comecei a pensar que
eu deveria respeitar as amizades dele, afinal era comigo que ele namorava e eu não
queria perde-lo. Ele também respeitaria as minhas amizades se eu respeitasse as
deles, certo? Errado.
Ele não respeitava, reclamava de tudo, nada nunca tava
bom, vivia me xingando e me humilhando. Mesmo eu fazendo tudo por ele, não era
o suficiente. Ele se desculpou. Disse que evitaria. Foi quando respondi um
amigo no Twitter e aquilo foi a gota d’água. Me tornei a oferecida, não o
respeitava, era uma falsa mentirosa que fazia da vida dele um inferno, que ele
tava adoecendo por causa do meu ciúme.
Mesmo sem entender qual crime eu havia
cometido, fiquei calada. Eu estava infeliz e sem forças para provar que ele
estava enganado. Vivia por ele e ele não retribuía o meu amor.
Deixei de viver.
De sorrir. Eu estava amando errado. Abri mão de quem eu era, dos meus amigos, do
que eu fazia, por alguém que não valorizava nada disso. Como “castigo” ele me
bloqueou no celular. E eu achei bom. Meu amor virou abuso, vontade de sumir.
Chorava sozinha e torcia pra ele nunca mais voltar.
Aí a saudade batia. Eu o
procurava e acreditava que seria tudo diferente. Até acontecer tudo de novo. Looping
infinito. Ele nunca mudou, nem vai. Nunca deixou de falar com as amigas dele e
eu nunca prestei.
Hoje sei do erro que cometi: deixei de me amar.
Tive que aguentar
calada todas as humilhações que poderia enfrentar num relacionamento, porque a
culpada era eu, eu era ciumenta demais e só tava colhendo do meu veneno.
Fiz
terapia, mas nunca mais fui a mesma. A depressão nunca passou. Hoje em dia reconheço
de longe homem controlador e fujo. A tristeza ainda bate por não termos dado
certo. E eu queria tanto... Mas um dia passa, eu penso. Aos poucos eu vou me
reerguendo, abrindo caminho pra felicidade voltar.
E passou. Não foi um término, foi um livramento.
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