Pular para o conteúdo principal

O meio - parte I

Ler ao som de Quelqu'un m'a dit - Carla Bruni

Acordei e lá fora o céu amanhecia lentamente. A cama era espaçosa. Lençois brancos cobriam minha pele nua. As enormes janelas estavam entreabertas permitindo uma passagem de ar frio. As cortinas voavam livremente pelo quarto - pude perceber à medida em que fui abrindo os olhos lentamente. Esfreguei os olhos e espreguicei o corpo tentando me lembrar da noite passada. Levantei-me em direção à janela, levando junto a mim o lençol branco. A neblina cobria o semi-amanhecer. Os pássaros cantavam baixinho, sem querer incomodar. Cheiro de lavanda perfumava a suíte e então ouvi o barulho do chuveiro vindo do banheiro. Meu coração disparou: ele realmente estava ali. Olhei ao redor e haviam flores vermelhas sobre o criado-mudo ao lado da cama. Meu celular estava na poltrona encostada na parede paralela à janela; devia estar descarregado. Meu vestido azul e o restante das nossas roupas estavam espalhadas pelo chão. Esbocei um sorriso e fechei os olhos para sonhar um pouco mais. De repente começou a tocar Quelqu'un m'a dit. Senti os passos dele se aproximando de mim. Não me virei para olhar e o coração acelerou um pouco mais.

Chegou por trás com o corpo ainda molhado e afastou os cabelos que caíam sobre minha nuca. Beijou-me lentamente até alcançar minhas orelhas. "Você está linda", sussurrou. Hesitei em abrir os olhos; e se fosse sonho? Me virei para ele. Lindo como a névoa lá fora, com um sorriso que me chamava para perto, o torso enrolado numa toalha felpuda e vermelha, e algumas gotas de água escorrendo desde os cabelos até sumirem em seu peitoral. Nossos olhos encontraram-se e passei minha mão em seu rosto. Ele fechou os olhos sentindo meu toque, segurou minhas mãos e as beijou. Sorri timidamente quando ele voltou a me olhar e tentei esconder o rosto com o lençol. Ele  me impediu, chegando mais perto, me puxando para si e então me abraçou forte. Foi um abraço de saudade, por tanto tempo perdido - misturado com um abraço de alívio por enfim estarmos perto um do outro. Pedi que esperasse um instante e fui ao banheiro.

Lavei o rosto, escovei os dentes e percebi que meus olhos possuiam um brilho que há muito tempo eu não via. Pelo espelho pude ver uma camisa dele esquecida no canto do box e me vesti com ela. Abandonei o lençol no banheiro e voltei para a enorme e elegante suíte. A música havia parado; coloquei para tocar novamente.

Vestindo apenas um calção, ele estava sentado na beira da cama, vendo as fotos da minha câmera - fotos minhas, dele e de mais alguns desconhecidos que encontrei no caminho. Cheguei por trás, envolvi meus braços pelo seu corpo e beijei sua nuca e parte de suas costas. Ele largou a câmera e acariciou meus braços, envolvendo seus dedos nos meus, apreciando de olhos fechados o toque da minha boca. "Bom dia", eu lhe disse finalmente, ao pé do ouvido. "Bom dia". Virou-se para mim e me deitou na cama inesperadamente. Seu corpo ficou sobre o meu e seus olhos me fitaram por um uns minutos. Eu queria pular de felicidade, queria beijá-lo incansavel e infinitamente, mas apenas retribui seu olhar, desviando a atenção para sua linda boca, cercada pela barba recém-crescida. Ele beijou meus olhos, a ponta do meu nariz, meu queixo. Beijou o pescoço novamente. Senti suas mãos passearem por minhas coxas, apertando-as, enquanto meus dedos passeavam por entre os fios do seu cabelo. Minha respiração ficou ofegante. A dele idem. Meus pelos da nuca foram arrepiando, assim como os pelos dos braços e das coxas.

Nos beijamos e fizemos amor ao som da linda canção francesa. Eu não queria que a manhã acabasse, nem que a neblina fosse embora; queria que os pássaros voltassem e cantassem o mais alto que pudessem. Eu queria ficar deitada ali no peito dele o dia todo, sentindo o calor dos seus braços, o toque das suas mãos e o perfume do seu corpo. Tomamos café e falamos, falamos, falamos pelo restante do dia.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

As melhores frases de Will e Will (John Green e David Levithan)

Esse livro é sensacional! E eu poderia listar N motivos que me fizeram devorá-lo em três dias, que pra mim ainda foi muito , mas vou dizer só alguns: a) serviu de consolo por eu ter me decepcionado com Quem é você, Alasca? (fiquei tão desapontada, que abandonei o livro na metade. Não gostei. Me julguem); b) Me identifiquei com o Will gay por ele ter um namorado virtual (mas o meu existe. Acho. Brincadeirinha, existe sim); c) Eu tenho amigos gays tão divertidos quanto Tiny Cooper (o melhor amigo do Will hétero ) e quero que eles também leiam esse livro; d) Tem comparações, frases, metáforas tão inteligentes quanto em ACEDE (ou A culpa é das estrelas , para os leigos a propósito, eu chorei rios quando assisti o filme, e vocês? ). Aí você deve tá se perguntando "como assim Will gay e Will hétero, Alaiza?". Bem, é que Will Grayson, Will Grayson (título original) conta a história de dois garotos com o mesmo nome, porém um é gay e o outro é o melhor amigo de um super gay

RESENHA: Proibida pra mim - Gustavo Reiz

Oi, gente! É com muita empolgação que venho escrever a resenha de hoje, que é do divertidíssimo livro Proibida pra mim , do Gustavo Reiz . E vou confessar: incorporei CADA PERSONAGEM! A 'trama' é típica de temporadas da Malhação, sabe? Sem contar que esse título me lembrou o Chorão e, logo, despertou minha curiosidade (não sei se teve alguma inspiração na música de mesmo nome, mas acredito que sim, já que envolve música e rock e tal). Mas o fato é que eu adoro romance, se for adolescente, então, melhor ainda! Eu ri MUITO, chorei pouquinho (é lei!), mas foi de inveja porque eu AINDA ACREDITO que vou me apaixonar por um cara que toca violão e vai fazer uma música pra mim, assim como no livro. Não? Tudo bem #desilusões. Vamos à resenha: o livro conta a história do romance proibido entre os adolescentes Pedro e Lia. Ele, compositor da banda Os Infiltrados, filho da compreensível Simone e do ocupadíssimo Ricardo, e amigo de Ogro, Rafa, Japa e Arthur - todos são umas figuras,

Amar é viajar

(ao meu amor, que topou essa viagem louca) Então amar talvez seja isso: encontrar a calmaria depois de enfrentar águas turbulentas  Aprender a guiar o barco, a tocar em frente, Tentar não morrer na praia.  Amar é se arriscar numa viagem que a gente não conhece o destino final e nem quer que tenha final; é saber que vai enfrentar uns caminhos ruins, mas que isso não pode nos impedir de irmos adiante. Amar é seguir junto mesmo sem saber como que o barco funciona - e a gente vai descobrindo.  Nessa viagem louca que a gente nunca vai sozinho, aprendemos a estender a mão para o outro não cair. Às vezes a gente dá passos mais adiantados. Outras vezes, mais lentos. As vezes a gente discorda sobre qual direção seguir, mas é preciso chegar num acordo. E sempre chegamos.  As viagens são estressantes. Viajar cansa, né? Principalmente quando é a gente que tem que recalcular a rota, encontrar as saídas.  As vezes a gente quer abandonar o barco e seguir numa outra direção. Acho que amar também é iss