A cabeça sangrava. Havia um corte profundo nas sobrancelhas e os lábios também estavam feridos. O impacto entre os dois carros fora muito violento. Ela não apresentava nenhum sinal vital. Continuava adormecida e os paramédicos tentavam a todo o custo lhe salvar a vida. Mas ela ainda pensava, só não reagia. E lembrava de tudo o que queria esquecer.
Saiu de casa atordoada. Não havia com quem conversar. Sua mãe brigava por causa de suas crises de choro, sem nunca perguntar os motivos. O coração dela estava partido por não entender porque ele partiu sem explicações. Já havia três dias e ela continuava inconsolável. Precisava fugir, correr, sumir. Ela controlava a vontade de correr atrás, mas sabia que isso poderia piorar a situação. Olhava o celular a cada dez minutos e não havia chamadas, mensagens ou qualquer outro sinal vindo dele. Desligou a Internet. Queria se manter afastada, embora o quisesse por perto. "Ele prometeu nunca me deixar", pensava e chorava por dentro.
Lembrou de cada momentos juntos. Dos carinhos. Das promessas. Dos sorrisos. Lembrou-se do prazer que ele proporcionava a ela e seu corpo estremecia ao imaginar aqueles braços abraçando um outro alguém. Ela estava pronta para qualquer futuro ao lado dele, perto ou longe. Estava feliz dentro da bolha de ilusão que eles criaram e estourá-la foi como abrir uma ferida no peito, que a impedia de seguir em frente. Sem ele por perto, ela sentia frio nas noites quentes. Tornou-se dependente dos próprios sentimentos e não conseguia raciocinar nem comer com tanto vazio tomando conta do seu interior. Dirigia descontroladamente e ultrapassou um sinal vermelho, sem perceber.
Ainda desacordada, as lágrimas escorriam. Ainda desacordada, chamava por ele. Bom sinal para os paramédicos: ela está viva. Mas seu coração estava desfalecido e a alma infeliz. Ela abriu os olhos, olhando para o além. Não conseguia falar. Não queria pensar em nada e a mente pensava em tudo ao mesmo tempo. A cabeça doía e tudo girava. Ela se contorcia de dor e saudade, respirando através de aparelhos. Tudo incomodava. Vomitou sangue e esperança. Já não sentia as dores dos ferimentos, mas continuava a chorar. E em meio aos prantos e soluços, adormeceu na cama do hospital.
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