Ela falava sobre amor, escrevia sobre amor e ouvia canções de
amor. Ela colecionava revistas onde pudesse recortar corações coloridos e
dizeres apaixonantes, para grudá-los na parede do quarto, na agenda ou no
guardarroupa. Ela assistia a filmes românticos e chorava sempre que via pedidos
de casamento. Ela decorava poemas e criou uma página na Internet onde pudesse
compartilhar seus pensamentos. Mas aquilo tudo era máscara. Ela não era nada
daquilo. Nunca foi.
Seus ex-namorados eram insatisfeitos, seus relacionamentos
nunca davam certo. Ela não sabia agir com romantismo, diferente das personagens
que ela inventava. Ela não sentia saudade, não gostava de ficar por perto, embora
quisesse ficar por perto quando estava longe. Ela adulterava os artistas da TV,
mesmo estando na minha frente, e desdenhava do homem que tinha em casa. Ela exigia
amor e carinho, mas nunca fazia por merecer. Ela queria ser servida e gostava
de homens aos pés dela. Ela ignorava meus agrados e se mostrava incomodada com
a minha presença.
Eu a chamava para ir ao teatro e ao cinema, coisa que ela
dizia gostar, mas no fundo ela queria estar nos bares de esquina, tomando umas
e outras, dançando depravadamente. Ela tem maldade nos olhos e na língua; a
mente dela é poluída e tão suja quanto lixo. Eu sabia de tudo isso, mas preferi
acreditar que ela era a minha menina indefesa. Ela idolatra outros homens e
alimenta paixão platônica por eles, enquanto destroi minha imagem para os
amigos dela.
Ela se faz de vítima e faz os outros acreditarem que ela é
carente de amor.
Ela é falsa em cada beijo que dá, em cada abraço frouxo que
eu recebo. Eu procuro na rua aquilo que ela me oferece sem vontade, mas no
final da noite é com ela que eu quero estar. Ela tem um certo domínio sobre
mim, um magnetismo que me traz de volta sempre que me afasto. O beijo dela é
viciante e eu me irrito só de pensar em quem mais pode ter provado dele. Eu quis
casar com essa mulher.
Ou pelo menos com a mulher que eu pensei que ela fosse.
Comentários
Postar um comentário