Depois de abrir a caixa de e-mail e se deparar com a notícia que estava contratada para ingressar no emprego que esperava por quase dois anos, ela mal se conteve de tanta alegria. Contou a novidade aos amigos mais próximos e logo decidiu dar uma festa de despedida. Organizou cada detalhe, selecionando convidados e planejando o que comprar para beber, e, então, montou os convites e distribuiu no dia seguinte na faculdade, aos amigos da mesma rua e aos amigos da escola passada.
- Eu tô nervosa.
- Vai logo e entrega esse convite pra ele.
- E se ele não for?
- Claro que vai! Vocês são amigos, são colegas de classe.
- (suspiro) Tá bom.
- Age com naturalidade, como se estivesse convidando qualquer pessoa.
- Esse é o problema: ele não é qualquer pessoa.
- Tá, mas ele não sabe disso.
- Me espera aqui.
Se aproximou de mais um dos vários grupos que haviam na sala de aula dela, mas desta vez ele estava sozinho.
- Oi.
- Oi! (breve sorriso)
- Ó, esse fim de semana tô organizando uma festa na minha casa. Trouxe o teu convite. Gostaria muito que você fosse;
- Festa? De quê? Aniversário? - ele perguntou
- Não, não. É de despedida. Eu tô de mudança pra São Paulo.
- Jura?, perguntou ele, um tanto surpreso.
- É. Eu fui chamada pra um emprego, e eu tenho que fazer um curso preparatório, de 5 a 8 meses.
- Que legal! Parabéns!
- Obrigada.
- Eu sou de São Paulo, sabia?
- Mentira! Olha que coincidência...
- Pois é. Quem sabe a gente não se encontra por lá?- Quem sabe...
- Obrigado pelo convite.
- Imagina! Qualquer coisa, cê fala comigo.
(dois beijos no rosto) Ela se levanta, disfarçando o nervosismo e, ao mesmo tempo, a alegria por ter trocado breves palavras com ele. Ele a chama de volta e o coração dispara de vez.
- Eu tenho que te falar uma coisa.
- Ah! Cê não vai poder ir - ela diz, enquanto volta a sentar na cadeira ao lado dele.
- Não. Não é nada disso.
(Silêncio)
- Cê tem mesmo que ir?
- Pra... São Paulo? Tenho (um pouco desnorteada, sem entender a pergunta). Por quê?
- Olha... Eu sei que a gente mal se fala, mas eu gosto muito das poucas conversas que a gente tem. Eu acabei me acostumando com o fato de você abaixar os olhos quando conversa ou disfarçar sua falta de interesse -ou seu excesso de interesse- com a minha presença, mexendo no celular.
- Espera aí. Do que cê tá falando?
- Eu vou sentir sua falta, sabia?
(Silêncio)
- Por que isso agora? Isso não faz o menor sentido!
- A verdade é que... De vez em quando eu durmo e acordo pensando em você. Eu fico imaginando seu jeito atrapalhado quando tenta se equilibrar naquele sapato de salto gigante e escuto sua gargalhada ecoando no meu quarto quando eu vejo suas fotos no Facebook, e quando percebo também tô sorrindo. Eu tenho vontade de pedir o número do teu telefone e inventar uma desculpa qualquer só pra te chamar por mensagem. E, de repente, você chega com essa notícia de que vai embora, enquanto eu imaginava te ver entrando por aquela porta mais e mais vezes. Eu juro: eu tava pensando em te falar isso, mas não agora ... Eu não tô preparado pra "perder" você...
- Isso é egoísmo, sabia? Você teve todas as oportunidades do mundo pra me falar isso, mas decide falar no momento mais esperado da minha vida! Quantas e quantas vezes a gente já não conversou, e quantas e quantas vezes já não falaram pra você que eu sinto alguma coisa por ti? Talvez se você tivesse falado antes, eu saberia que decisão tomar agora.
- Eu não tô falando isso pra você desistir, não. Eu só quero que você saiba o quanto é importante pra mim, mesmo que eu nunca tenha demonstrado isso. Antes de mais nada, eu quero que você seja muito feliz.
- Isso só tá piorando as coisas! Foi desnecessário fazer essa... declaração, seja lá o que isso signifique, a essa altura do campeonato.
(Coração acelerado. De ambas as partes.)
- Olha só (levanta o queixo dela, forçando ela olhar nos seus olhos)... Seja qual for sua decisão... Eu não vou deixar você sair da minha vida assim. Entendeu?
Ela se levanta e sai. Puxa a amiga pelo braço e vai pra longe, sem ter certeza de mais nada. De repente, todas as palavras que ela sempre esperou ouvir dele, eram, agora, a última coisa que ele precisava ter dito.
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