Estava decidida a encontrar outro amor. Empolgada, me perdi no primeiro olhar cruzado na esquina, na primeira frase carinhosa, no primeiro sorriso lindo e qualquer outra coisa que me desse a impressão de estar apaixonada de novo. Perdi a vergonha e me propus a ser uma pessoa sem escrúpulos. Esqueci os ensinamentos de minha mãe e não me importei em parecer mais umas dessas meninas que se apaixonam todos os dias por um novo 'amor'. No começo eu gostei. Nada mais me fazia lembrar de você, mesmo que nossos amigos continuassem falando no teu nome, se referindo a mim e a você como 'vocês'. Não tem mais vocês, ou nós, ou um casal.
Eu aproveitei enquanto pude. Gastei todas minhas energias em botecos baratos e me atrevi a experimentar outras substâncias. Mas aí lembrei que um dia vou doar meus orgãos, então eles precisam estar em ótimas condições de uso. Uma pena que meu coração esteja absurdamente gasto e cheio de feridas. Seria egoísmo doá-lo no estado em que ele se encontra.
Você passava e eu ignorava sua presença, como quem ignora um desconhecido que simplesmente não chama atenção. Você estava feliz, então por que eu deveria estar chorando nos cantos do meu quarto, desejando mentalmente que você me ligasse no meio da madrugada? E dancei. Gritei. Sorri como nunca mais tinha sorrido antes. Não sei que porcaria colocaram na minha bebida, mas eu estava bem. Ouvi dizer que tinham colocado doses de desapego, mas o efeito dele passava no momento em que corpo voltasse ao seu estado de nostalgia, sempre que se encontrasse sozinho novamente, em lençois amarrotados. E foi o que aconteceu quando voltei pra casa.
Longe da risada dos amigos, a televisão mostrava filmes sem graça que costumávamos assistir juntos. Só agora vejo o quanto eles são entediantes, porque só tem sentido quando assisto com você. Ao trocar a roupa suja da balada, abro o guardar-roupa e seu casaco cai involuntariamente na minha direção. O que isso ainda faz aqui? Não tive como evitar as vozes que saíam do meu caderno, me pedindo pra escrever qualquer parágrafo sobre você. Aqueles amores da esquina não me davam inspiração nenhuma, não importa o quanto eles fossem agradáveis e atenciosos comigo. Não importa o quanto de amor tivessem para me dar, sei que jamais retribuiria com tanto esmero.
Não se preocupe. Você não passa de folhas rabiscadas e fotos na gaveta. Você não passa de um erro que eu -ainda- gostaria de estar cometendo.
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