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A Ju, o Beto e a chuva.

Era manhã de uma segunda-feira qualquer. Tinha tudo para ser a mesma monotonia de sempre, mas o dia por si só já havia começado diferente: ao contrário do calor habitual e o Sol escaldante de todos os dias, nuvens escuras tomavam posse do céu; logo uma tempestade cairia. O vento soprava sereno e um friozinho gostoso pairava pelo pequeno apartamento. Não fosse a energia, que foi embora assim que a chuva se fez presente, tudo estaria perfeito. O computador anunciava bateria fraca, então ela o conectou ao no-break para aproveitar o restante de bateria ouvindo música. Coldplay. Agridoce. Adele. Jack Johnson. Enquanto a playlist reproduzia aleatoriamente uma a uma das músicas, ela pegou um bloco de papel e uma caneta, sentou-se próximo à janela e observou a chuva que escorria pela vidro e banhava as árvores na calçada do prédio.

De repente, alguém bate à porta. Não tinha energia, logo a campainha não funcionava. E ela ainda não havia mandando instalar o tal do interfone. Perguntou, em vão, quem era. Abriu a porta. Um arrepio subiu pela espinha e o coração bateu em ritmo acelerado. Não esperava aquela visita tão cedo. Na verdade, ela não esperava nem tão cedo nem tão tarde.

Ele continua com a mesma expressão de sempre: cético. E lindo. Camiseta branca, bermuda xadrez. Não reparou no calçado, mas viu que ele tava de relógio novo. A chave do carro pendurada na cintura -ele adorava exibi-la. Os pensamentos foram interrompidos por um breve cumprimento. Posso entrar? Claro, fica à vontade. Deixa eu pegar uma toalha. Desculpa aparecer sem avisar, mas aproveitei que tava aqui perto e vim te trazer o dinheiro. Não precisava. Claro que precisava! Tô te enrolando há semanas ... Obrigada. Olhares perdidos. Começa a tocar 130 anos, na voz da Pitty, a música que eles costumavam dançar juntos. Ele sorri, ela procura palavras. Tá tudo bem? Tá. Como tá no trabalho? Normal. Ele sempre usava essa mesma resposta pra tudo e ela detestava. E a faculdade? Tô enrolada com uns trabalhos, mas tô gostando. Acho que vou gripar com essa chuva. Tu vai gripar! Sempre fica gripado, nem que seja um simples chuvisco. Já comeu? Já. Silêncio.

A vontade era de puxar ele pra dançar, como nos velhos tempos. Mas ela não tinha mais liberdade pra essas coisas. Por um instante, ele pareceu levantar e ir em direção a ela, pegar sua mão, olhar firme nos seus olhos e puxá-la pra perto. Mas ele levantou e foi em direção à porta.

Tenho que ir. Tá cedo. Vou trabalhar daqui a pouco. Obrigada por ter vindo, mas não precisava mesmo. Eu já falei que tu pode contar comigo pro que precisar, não disse? Eu sei, mas ... Pra que ela disse esse 'mas'? Baixou o olhar. Mas o quê? Nada. Tem certeza que tá bem, Ju? Tenho. Eu te conheço. Já sei que quando tu escuta essas músicas e tá de papel e caneta na mão, alguma coisa tu tem. Tá, mas eu não quero falar sobre isso. Não quero que tu fique magoada comigo, depois de tudo o que a gente passou juntos. Agora ele lembra das coisas que a gente passou juntos? Achei que tu tivesse que ir trabalhar. Tá certo. A gente se fala melhor outro dia então. Se precisa de qualquer coisa, me liga. Oi, Beto, tô precisando de ti, tem como tu aparecer aqui em casa?, ela pensou ironicamente. Pode deixar. Me liga também. Tchau, Ju. Tchau, Beto.

Tchau, Beto. Em outra vida, ela e o Beto estariam aproveitando essa chuva juntos, deitados na cama, enrolados nos lençois. O Beto agora se aquecia em outros braços, em outro teto, talvez com a mesma música, só que com uma companhia diferente. Ela ainda estava em busca de companhias tão agradáveis quanto a dele, mas ninguém parecia tão interessante. Acaba a bateria do no-break. O que resta agora é o silêncio de pensamentos e o barulho da chuva como trilha sonora. Segura o choro. Então, ela pega o bloco de papel -na cor rosa, como sempre!-, a caneta de tinta azul e começa a escrever um texto qualquer sobre o Beto. E a chuva.

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