Nada vai ser como antes [Culpa sua eu me tornar chata ao
escrever a mesma coisa toda vez que começo um texto]. Não adianta quantas vezes
eu leia a primeira carta que você me deu ou quantas vezes eu chore lendo versos
nas minhas agendas de anos passados. De agora em diante as coisas vão ser assim:
eu cá, você lá. Uns abraços apertados de vez em quando e um beijo sem vontade
algumas vezes ao dia. Estamos muito ocupados e muito distantes, ainda que
perto. Eu quase não ouço sua voz e nem percebo se você ta acordado ou dormindo.
Eu não sei o que se passa na sua cabeça e tento engatar uma conversa, em vão. E
acabo falando demais. Converso demais e sozinha. Vez ou outra planejamos ter
uma casa, mas é muito de vez em quando. E acabo me acostumando com o fato de me
afundar em livros, em músicas, ou nos textos escritos por outras pessoas.
Demorei a perceber que não vamos mais conversar na beira da
calçada até anoitecer. As despedidas, que antes eram doloridas e me faziam
desejar que você ficasse por mais algumas horas, hoje fazem falta. Porque pelo
menos eu sabia que você estaria ali, no outro dia, me dando mais centenas de
beijos apaixonados e intermináveis. É a tal rotina. Que coisa chata. Mas é
inevitável. Olho no celular, na esperança de ter alguma SMS sua e me frustro
quando não chega nada. E isso nem deveria ser banal. Mas é que mulher gosta
dessa coisa de se machucar, de correr atrás, de esperar e insistir. Eu então...
E eu continuo esperando pelo dia em que você vai preferir
conversar comigo ao invés do segurança, lá na portaria. Eu falo besteira
demais, eu sei. Mas eu sei conversar, uai! Você acha besteira isso que to escrevendo,
até porque não sou nem metade do que escrevo, e meu vocabulário não é tão
extenso assim, e eu chamo muito palavrão e falo muita gíria. Mas eu te entendo
no meio de toda essa confusão que é minha cabeça.
Hoje eu não quero que você me faça carinho, nem me dê
beijinhos e nem fale com voz de criança. Não precisa ser carinhoso quando eu to
estressada e você vem me acalmar com essa voz mansa e compreensível, porque
nada vai mudar. Quando essa agonia passar, o silencio vai voltar a fazer
barulho no corredor de casa.
Então, antes que volte ao silencio que era antes, me faça
ouvir sua respiração ofegante mais um pouco. Me jogue na cama, levante meu
vestido e acaricie delicadamente cada parte do meu corpo, porque – ao menos –
isso não virou rotina. E nem precisa elogiar a lingerie nova ou comentar o fato
de eu parecer uma garota de programa com esse batom vermelho. Eu só não quero
que a gente viva essa rotina o tempo todo. Eu não quero muita coisa e quero
mais coisas ainda. Eu prefiro amarrotar sua camisa, que passá-la, entenda isso.
E eu gosto quando você segura minha e puxa meu cabelo. Faça mais vezes. Me
chame pelo meu nome, ao invés de assovios. Vindo de você, vai parecer música
aos meus ouvidos.
Não precisa me mandar cartas, nem decorar meu poema preferido,
nem mandar SMS na madrugada quando for dormir na casa da sua mãe. Até porque
agora não somos mais namoradinhos –e no diminutivo, pra ver o quanto éramos
inocentes-. Agora trata-se de um homem e uma mulher. Sou sua mulher. Trate-me
como uma.
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