Parecia amor de Jardim de Infância. Não sei que diabos você fez para que eu não conseguisse mais tirar teu bendito -ou maldito- sorriso metálico da cabeça. Olhei pra você e senti vontade de escrever uma cartinha, como uma garotinha que decobre o primeiro amor e já imagina uma vida feliz e eterna ao lado do seu amado. Eu sou teatral demais, aviso desde já, e passei a te namorar no interior da minha imaginação. Você é a companhia perfeita pra andar de mãos dadas na hora do recreio. Eu te dou um pouco do meu lanche e você agradece com um beijo. Sou a mais animada na torcida da sua turma do futebol, ainda que você nem consiga dominar direito a bola. Você passa e eu fico observando cada movimento seu. E sinto ciúme quando você empresta uma borracha pra amiguinha que senta na sua frente. Somos novos demais para determinar posse um do outro.
Quando volto pra realidade você continua sentado um pouco mais à frente da minha carteira e eu te observo escrevendo num caderno fino, de capa azul. Nunca entendi como homens conseguem se contentar com um mísero caderno e caneta sem tampa. Mas o que vale é a forma da sua letra e o jeito com que ela se encaixa em cada linha. Você não parece ser do tipo que vai ao teatro ou escuta um MPB de vez em quando, mas no nosso namoro imaginário, até poemas você recita pra mim. Você nem notou minha presença...
Eu fico te namorando de longe e acho graça quando me pego feito boba pensando na gente. Eu nem sei teu nome, não sei tua idade. Não sei se a loira que te acompanha no intervalo tem alguma relação íntima contigo e eu já desenhei uma casa pra nós dois. É, eu sou assim: louca, exagerada e me apego rápido demais. Mas não demonstro qualquer interesse e finjo que não ligo se você se atrasa no primeiro tempo, desde que eu veja teu rosto através do vidro da porta, entrando ou saindo. Eu espero te ver na janela quando eu chegar em casa. E espero mais ainda que você me venha perguntar as horas para que eu possa encontrar um meio de te manter por perto.
Na saída eu já desejo que o dia seguinte chegue o mais depressa possivel. Na chegada eu desejo que as horas passem devagar. Mas eu não consigo te encarar, mesmo deixando escapar um olhar na tua direção de vez em quando. Você continua indo e vindo sem dizer uma só palavra, sem demonstrar nenhuma reação de interesse. Eu desanimo, esqueço de te namorar nos meus pensamentos e volto a prestar atenção na aula entediante de Fotografia.
Eta God
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