Era quase meia-noite e eu andava sozinha pelos corredores da
escola. A escola, gigantesca, era dividida em três andares, e, ao longe, eu
ouvia sons como que de uma festa. Segui o som e não encontrei absolutamente
nada. Por mais estranho que fosse estar naquele horário, numa escola totalmente
vazia, eu não sentia o mínimo de desconforto. Um vento muito forte começou a
bater e por uns segundos achei que um temporal fosse cair. As folhas se
desprendiam das árvores e as luzes do corredor principal do terceiro andar começaram
a piscar. O vento cessou, mas um perfume de cheiro forte tomou conta do lugar e
percebi que aquele era o seu perfume. Um frio tomou conta da minha barriga só
de imaginar que eu você poderíamos estar sozinhos, tarde da noite e sem motivo
algum. Seria coincidência? Como cheguei
até aqui? O que eu to fazendo aqui?
Aos poucos uma sombra foi surgindo na escadaria e eu quis
correr. Mas o medo e a curiosidade fizeram minha perna travar por alguns
instantes, sem me deixar outra alternativa, a não ser permanecer estática. E
era você. Com um sorriso tímido e aliviado. Fiquei apavorada. Não sei porque,
mas eu queria ir embora, ainda que eu tivesse ficado feliz em te ver. Eu nunca
trocara um só ‘bom dia’ contigo e agora a oportunidade de trocar qualquer ideia
que fosse estava ali, na palma da minha mão, ainda que fosse de uma forma
bizarra. Você foi se aproximando e meus pensamentos ficaram desorganizados. Deixei
os pensamentos de lado, porque, de qualquer jeito, eu não saberia o que dizer;
eu sempre fui péssima pra conversar com ‘estranhos’. Para minha surpresa, você
segurou meu braço e perguntou por que eu ainda não estava no auditório. Que auditório?, pensei. Todos estavam à
minha espera e você estava à minha procura há quase quarenta minutos. À minha espera pra quê?
Estávamos íntimos demais e você olhou nos meus olhos dizendo
que tudo ia dar certo, que eu não tinha motivos para ficar tão nervosa. Você
sabia da minha timidez e faria qualquer coisa para que eu ficasse tranquila. Pediu
que eu te esperasse, para que fossemos juntos até o lugar. Só percebi que você
estava de smoking quando voltou do banheiro. Eu estava vestida com um longo
vestido azul, de festa. Ainda muito confusa, te segui até o local mencionado.
Reconheci a música; era um baile de formatura – como os de Primavera, comemorados
em bailes americanos -. O auditório ficava no subsolo e levamos cerca de quinze
minutos para chegarmos até lá.
Eu e você fomos coroados rei e rainha do baile. Eu não sei
dançar. Perdi o hábito de falar em público, e só de pensar na possibilidade de
fazer um discurso, o desespero foi tomando conta de mim. Palavras de
agradecimento se recusavam a sair da minha garganta e lá elas ficariam, pois
não fiz nenhum esforço para falar um ‘obrigada’ que fosse. Por sorte, as luzes
do auditório foram logo se apagando e somente a luz central ficou acesa. Era a
hora da dança. Você me conduziu e eu, ainda assustada e desnorteada, te segui.
Timidamente, começamos a dançar e você foi aproximando o seu rosto do meu.
Antes que eu pudesse prever qualquer movimento, ouço o som de uma campainha
quase infinita.
Acordo. Intervalo. Estamos no terceiro andar da escola,
a sala tá cheia, são três e meia da tarde e você sai sem fazer nenhum
cumprimento. Meu rosto tá marcado pelo arame do caderno, onde acabei por
cochilar. Eu to vestida com a mesma calça jeans de sempre e a única coisa que
me restou do sonho, foi a música que repetindo no fone de ouvido.
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