Pular para o conteúdo principal

A arte de desacreditar

E aos poucos a gente vai desacreditando. Das pessoas, das atitudes delas, dos abraços, das palavras de conforto, de dois beijinhos e dos gritos histéricos das meninas preocupadas com o resultado de uma tarde inteira de salão. Sim. Até o tal gritinho é teatral demais, tudo combinado. Não dá pra acreditar na mãe, no pai e no filho. A gente quer acreditar no marido da filha da vizinha que acabou de se mudar, porque acreditar em quem você confiou a vida inteira acaba se tornando frustrante demais. E você fica absurdamente espantada em ver como as pessoas mentem tão bem, contracenam tão bem, conseguem fingir sem o mínimo de remorso ou culpa. São conversas bobas, histórias falsas e desconexas. E foi preciso esperar uma eternidade de tempo pra perceber que o inimigo mora ao lado, dorme junto, almoça e janta na mesma mesa.

Você acaba tendo que acreditar na sua própria sombra, até perceber que ela já não se movimenta como você. É tudo um fundo falso de atitudes, palavras e emoções. 

É melhor esconder-se nos seus próprios segredos, ainda que eles gritem no seu peito, pedindo para serem compartilhados. Dividir alegrias pode ser uma armadilha pra cair no buraco da inveja. Dividir tristezas é o caminho certo pra despertar a alegria de quem deseja te ver no fundo do poço. E aos poucos essa vontade de desabafar com alguém vai sumindo, à medida em que a verdadeira face das cobras vai se mostrando e a máscara vai caindo. Já não existem amigos de infância, ou prima que era irmã, irmã que era carne e unha. Não existe mais Querido diário, porque sua mãe tem a chave do cadeado que guarda suas confissões. E com ela não seria diferente: ela seria a primeira a recriminar você. Seu segredo não estaria a salvo.

Não existe a alma caridosa que apenas escute sem julgar -até porque todo mundo julga-, mas que ao menos escute sem precisar espalhar aos quatro ventos. E você ainda se engana com os rostinhos simpáticos e amigáveis, que oferecem uma boa prosa. Prefere desconfiar -e detestar- aqueles que amam todo mundo, conhecem todo mundo, se gabam de tudo, com todos e são 'simpaticozinhos' toda hora. O 'querida' não soa muito bem de vez em quando.

Por favor, não ame todo mundo. Diga não mais vezes. Não sorria com qualquer bobagem e não ache graça de certas piadas; nem todas são engraçadas. Passei a confiar mais nas pessoas aparentemente grossas, mas com um bom coração, ainda que elas só existam no interior do meu sub-consciente. Só confio no meu sub-consciente. E é lá que guardo meus segredos, guardo minhas melhores histórias, meus piores pesadelos. Não divido. Não compartilho. Não conto. Não converso nem desconverso. Deixo quieto. Deixo guardado. Porque sei que uma hora ou outra, alguém vai querer inventar minha história por mim.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

As melhores frases de Will e Will (John Green e David Levithan)

Esse livro é sensacional! E eu poderia listar N motivos que me fizeram devorá-lo em três dias, que pra mim ainda foi muito , mas vou dizer só alguns: a) serviu de consolo por eu ter me decepcionado com Quem é você, Alasca? (fiquei tão desapontada, que abandonei o livro na metade. Não gostei. Me julguem); b) Me identifiquei com o Will gay por ele ter um namorado virtual (mas o meu existe. Acho. Brincadeirinha, existe sim); c) Eu tenho amigos gays tão divertidos quanto Tiny Cooper (o melhor amigo do Will hétero ) e quero que eles também leiam esse livro; d) Tem comparações, frases, metáforas tão inteligentes quanto em ACEDE (ou A culpa é das estrelas , para os leigos a propósito, eu chorei rios quando assisti o filme, e vocês? ). Aí você deve tá se perguntando "como assim Will gay e Will hétero, Alaiza?". Bem, é que Will Grayson, Will Grayson (título original) conta a história de dois garotos com o mesmo nome, porém um é gay e o outro é o melhor amigo de um super gay

RESENHA: Proibida pra mim - Gustavo Reiz

Oi, gente! É com muita empolgação que venho escrever a resenha de hoje, que é do divertidíssimo livro Proibida pra mim , do Gustavo Reiz . E vou confessar: incorporei CADA PERSONAGEM! A 'trama' é típica de temporadas da Malhação, sabe? Sem contar que esse título me lembrou o Chorão e, logo, despertou minha curiosidade (não sei se teve alguma inspiração na música de mesmo nome, mas acredito que sim, já que envolve música e rock e tal). Mas o fato é que eu adoro romance, se for adolescente, então, melhor ainda! Eu ri MUITO, chorei pouquinho (é lei!), mas foi de inveja porque eu AINDA ACREDITO que vou me apaixonar por um cara que toca violão e vai fazer uma música pra mim, assim como no livro. Não? Tudo bem #desilusões. Vamos à resenha: o livro conta a história do romance proibido entre os adolescentes Pedro e Lia. Ele, compositor da banda Os Infiltrados, filho da compreensível Simone e do ocupadíssimo Ricardo, e amigo de Ogro, Rafa, Japa e Arthur - todos são umas figuras,

Amar é viajar

(ao meu amor, que topou essa viagem louca) Então amar talvez seja isso: encontrar a calmaria depois de enfrentar águas turbulentas  Aprender a guiar o barco, a tocar em frente, Tentar não morrer na praia.  Amar é se arriscar numa viagem que a gente não conhece o destino final e nem quer que tenha final; é saber que vai enfrentar uns caminhos ruins, mas que isso não pode nos impedir de irmos adiante. Amar é seguir junto mesmo sem saber como que o barco funciona - e a gente vai descobrindo.  Nessa viagem louca que a gente nunca vai sozinho, aprendemos a estender a mão para o outro não cair. Às vezes a gente dá passos mais adiantados. Outras vezes, mais lentos. As vezes a gente discorda sobre qual direção seguir, mas é preciso chegar num acordo. E sempre chegamos.  As viagens são estressantes. Viajar cansa, né? Principalmente quando é a gente que tem que recalcular a rota, encontrar as saídas.  As vezes a gente quer abandonar o barco e seguir numa outra direção. Acho que amar também é iss