Então busquei um lugar, uma hora, um dia para que eu pudesse ficar a sós comigo mesma. Precisava fugir, sair, viajar, correr pra um lugar bem longe. De tudo. De todos. Aquela necessidade de liberdade que me consumia, eu estava prestes a saciá-la. Fotografar, cantar, pensar, refletir, dirigir. Correr, gritar. Loucura? Paz. Nada de problemas, apesar do mundo que eu carrego lá fora. Tenho vidas pra cuidar. Mas neste momento, minha alma precisava de um descanso. Um descansinho só, nada mais. Egoísmo? Férias. Quero gastar, comprar. Comprar roupas, sapatos, comida. Quero provar refeições diferentes. Quero conhecer lugares diferentes, pessoas diferentes. Não preciso conhecer ninguem. Quero conhecer alguem. Estou cansada dos mesmos rostos cansados, da mesma rotina, do mesmo humor, dos mesmos lugares, das mesmas pessoas.
Quero um cachorro. Quero um lago, uma cachoeira, quero barulho da chuva caindo no telhado de madrugada. Quero ver a madrugada amanhecendo. Quero ver o Sol nascendo e o pôr-do-Sol. Quero ver o anoitecer. Quero adormecer. Quero engordar vendo filmes, comendo pipoca e brigadeiro. Quero me deliciar com copos e mais copos de Coca-Cola. Celulites já não me espantam. Quero um carro e dirigir nas ruas da cidade, nas ruas da estrada. Quero dirigir na estrada. Paro e admiro o passarinho que canta no alto da árvore. Observo a familia que caminha levando três ou quatro filhos. Pinto um quadro. Pinto rostos, pinto casa, pinto casos. Pinto minha casa. Decoro, troco cortinas, tapetes, flores. Compro flores e vasos novos. À noite saio para um barzinho.
Quero violão, quero música, quero jazz e blues; quero uma serenata daquela música que tanto ensaiei. Bebo. Como. Bebo. Tomo. Quero montar uma cabana e ler aquele livro inacabado. Quero livros, quero cadernos. Quero coleção de canetas e papeis. Por favor, me dê canetas e papeis. Escrever, compor, combinar palavras, descobrir palavras. Tem dicionário aí? Ainda busco novas aventuras. Trilhas, árvores. Escaladas, pedras. Navegar rios, mares, oceanos. E fotografo. Não deixo escapar nada. De repente, no ponto alto da minha aventura, o despertador toca. Desperto. Volto pra minha rotina, pros mesmo rostos, pra mesma cozinha. Volto pra você.
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